Crianças na missa: do culto à ditadura do silêncio

1 – Para um casal católico com filhos pequenos a ida à missa dominical é um dos temas mais complexos na sua missão educativa. Já sabemos que cada criança é diferente, mas também os pais o são. Há pais com mais tempo, pais com mais paciência, pais com mais autoridade, pais com mais filhos. Por isso, apesar de toda a gente ter uma opinião sobre o tema “crianças na missa”, a verdade é que não há uma resposta universal. Levar ou não os miúdos à missa e caso os levem, como estar com eles, depende muito de cada família.

Desde que temos filhos que a minha mulher e eu decidimos levar os miúdos connosco à missa. Mesmo quando há possibilidade de irmos sozinhos, preferimos ir com eles. Primeiro, porque acreditamos que por pouco que percebam, alguma coisa lá fica. E a verdade é que, no meios de infinitos “posso ir à casa de banho?” e “já acabou?” eles nos vão surpreendendo de vez em vez com demonstrações de piedade. Mas mais do que isso, a Graça de Deus actua de forma misteriosa, que aproveita até às crianças acabadas de nascer.

2 – Por vezes a maior preocupação com as crianças na missa é mantê-las entretidas. Não sei dizer quantas vezes me foi recomendado que leve umas bolachas, ou uns brinquedos, ou uns lápis de cor, para ajudar a que os meus filhos não se aborreçam na missa. E acredito que a maior parte das pessoas que mo recomenda o faça por simpatia. Mas também percebo que em geral a preocupação não é com as crianças, mas com o potencial incómodo que elas podem causar. No fundo, vale tudo para que as crianças estejam na missa caladas. Brinquem, comam ou desenhem, mas não chateiem. Lembro-me de uma amiga  a quem um sacerdote chegou a sugerir que não precisava de ir à missa ao Domingo para ficar com às crianças em casa!

3 – Não critico os pais que, não querendo incomodar, fazem tudo o que podem para silenciar as crianças. A culpa não é deles, mas desta mentalidade que dita que o importante para as crianças na missa é que não se oiçam.

Claro que é importante que as crianças aprendam a estar em silêncio na missa. Mas porque o silêncio é necessário para estar atento ao milagre que ali se desenrola. O silêncio ajuda a atenção e à tensão com que estamos diante do Santo Sacrifício de Jesus, que se repete diariamente, para nossa salvação. Se o que ensinamos aos miúdos é que na Igreja podem fazer o que quiserem, desde que estejam em silêncio, é verdade que os ensinamos a não a incomodar os outros, mas nãos os educamos na Fé!

4 – Evidentemente que tentar que as crianças estejam atentas à missa não só é muito difícil, como, em geral, torna a sua presença na missa mais incómoda. Não sei dizer quantas vezes os nervos do barulho feito pelos meus filhos me levou a comprar o seu silêncio!

A teoria é muito bonita, mas é destruída pelo mais bruto dos factos. Constantemente renovo as minhas intenções de ser mais paciente, mais pedagógico ou mais descontraído com os meus filhos na missa, e constantemente falho. A liberdade dos meus filhos tem o inconveniente de nem sempre ir ao encontro da minha vontade!

Às vezes o senhor padre estica-se um pouco na homilia, ou vamos a uma Igreja mais pequena (ou maior), encontramos amigos, ou simplesmente eles não estão para ali virados, e a missa transforma-se num descalabro, com ralhetes em surdina e várias idas à rua.

Mas no meio do aparente “caos” vou vendo frutos. Para os meus filhos o Domingo é dia de missa, e quando acontece que eles não vão, protestam. Vão começando a prestar atenção às leituras, a responder, a ajoelhar. Vão crescendo na consciência da sacralidade da Eucarístia.

5 – A Igreja é uma comunidade. Somos todos membros do mesmo corpo. Por isso o desafio dos pais levarem as crianças à missa é um desafio para toda a comunidade. Também aqueles pequenos, mesmo os mais barulhentos e birrentos, fazem parte deste corpo.

Levar três ou quatro miúdos pequenos à missa é por si mesmo um desafio. E os pais em geral já vivem bastante incomodados com a ideia da perturbação que causam aos outros, sem precisar de olhares, comentários ou sugestões. Sim, nós sabemos que podemos dar bolachas, ou desenhos, ou brinquedos para que as crianças não incomodem as outras pessoas. Também sabemos que os podemos levar lá para fora, ou mesmo nem os levar. Mesmo assim decidimos arriscar educar os nossos filhos na Fé. E isso dá trabalho e causa mais incómodo ao resto da assembleia do que simplesmente ficar em casa. Mas o incómodo que as crianças causam na missa é o preço a pagar para que elas cresçam na consciência e no amor a Jesus.

E por isso o povo de Deus tem que escolher. Se quer a ditadura do silêncio, com Igrejas sem crianças ou com crianças alienadas com uma qualquer distracção, ou se está disposta a ajudar as crianças a crescerem na Missa. O primeiro caminho é mais cómodo, mas estéril. O segundo implica barulho, birras e zangas, mas dá frutos. Eu sei qual escolho.

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